quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Só de Sacanagem!

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração tá no escuro.
A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
" - Não roubarás!"
" - Devolva o lápis do coleguinha!"
" - Esse apontador não é seu, minha filha!"
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!
Dirão:
“ - Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba.”
E eu vou dizer:
”- Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.”
Dirão:
" - É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”.
E eu direi:
” - Não admito! Minha esperança é imortal!”
E eu repito, ouviram?
IMORTAL!!!
Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final.


É impressionante como às vezes vemos ou ouvimos alguma coisa boa e nem nos damos conta. Eu já ouvi esse texto muitas vezes e nunca tinha prestando a atenção que ele merecia até ter minha atenção chamada nesse último final de semana e feriado de carnaval, pela minha namorada. Esse texto é declamado pela Ana Carolina naquele CD que ela fez com o Seu Jorge, lá pela faixa 9 ou 10 (ou 11, ou 12, ou 13...), mas a autora é a, mais conhecida como atriz, mas também poeta e jornalista, Elisa Lucinda. Elisa... com a devida vênia, coloco seu texto aqui, mas só porque quiserá eu ter tido a genialidade de tê-lo escrito.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Aliteração

Se era pra errar e pedir perdão,
Se era proposital que todo o esforço fosse vão,
Se era pra sofrer com a indefinição,
De ser um dia sim, de ser o outro não.

Se o universo for só um grão
Se comparado ao tamanho da tentação
Se não houver culpa, nem retaliação
Nem dor, nem rancor, capacidade de persuasão.

Se pra cada certeza, uma indecisão,
Se pra cada aposta, uma imprevisão,
Se pra cada medida, uma porção,
A mão que construiu o abrigo, agora nega repartir o pão.

Se o seu limite ainda for o chão,
Se o meu limite for aquela canção,
Se eu fizesse uma poesia pra você,
A faria bem assim, sem evitar essa aliteração.